quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Desconcerto


Tem dias em que sou desconcerto. Peças soltas e quebradas de um eu que, em alguns dias, é completo.
Uma falta de sentidos e de conexões. Como se meus neurônios ficassem atordoados pelos choques sinápticos e se perdessem em minhas entranhas.
Idéias loucas e bagunçadas. Desconexão!
É quando paro e penso, ou tento pensar, em tudo que sinto, faço, quero. Alguns dias da semana são propícios a isso. Como aquela manhã em que você acorda atrasada e esquece onde colocou as chaves do carro. Ou quando você resolve sair para almoçar e descobre um erro em uma parte importante de seu trabalho que precisa ser reparado na hora.
Aí, você respira fundo, enche os pulmões de ar e faz os neurônios ‘sinapsiarem’ [acho que inventei uma palavra] mais rápido, pra ver se acelera o trabalho e ainda consegue chegar ao restaurante antes dele fechar e você ter de contentar-se com um pastel da padaria.
Tem dias em que sou desconcerto. Como nos dias em que sinto falta de algo que ainda nem vivi, ou de pessoas que nunca encontrei. De lugares que nunca conheci e vozes que nunca ouvi.
Ou aqueles dias em que se sente uma falta absurda do colo do pai. Do abraço apertado da mãe e do sorriso bobo do bobo do irmão que você ama mais que a você mesma.
Dias em que o Sol parece que te ‘olha’ torto e quer te dizer pra você passar mais protetor, ou, quem sabe, levar o guarda chuva pra rua porque ele vai se esconder em meio às nuvens carregadas mais tarde e você pode se molhar. E você não dá ouvidos e fica nervosa quando a chuva cai e molha sua roupa e seu sapato, aqueles escolhidos à dedo para passar o dia no trabalho e ir direto para um jantar importante depois do expediente.
Tem dias em que os dias parecem noites sem fim. Noites escuras, sem estrelas... E você acende a luz na tentativa de iluminar um pouco a escuridão que teima em se instalar em sua alma. As horas passam lentas, os momentos ruins parecem infinitos. Uma dorzinha chata teima em se instalar no estômago, ou na cabeça, ou no estômago e na cabeça. E até o barulhinho do hamster correndo na gaiola parece que te incomoda, mesmo quando você sabe, dentro de você, que adora aquele som que te encanta o dia ‘todos os dias’.
Mas tem dias em que sou desconcerto. E tento, infinita e incansavelmente, um conserto que sei impossível. Tento encaixar peças, procurar pedaços faltantes de uma ‘mim mesma’ que não sei onde deixei. Mas sei que existe e que pede socorro. Que pode ser completa como em alguns dias quando o Sol brilha sem nuvens e as horas seguem seu curso normal, como águas calmas em rio tranquilo.
Tem dias em que sou desconcerto. E, nesses dias, percebo que não sou só eu, mas, todo o infinito de meu mundo... Que perde peças, cores, nuances... Inexplicavelmente, sem deixar vestígios.
E, de verdade, algumas vezes, nesses dias em que sou desconcerto, é quando me sinto mais certa, mais ‘encaixada’ nessa bola que chamamos mundo e nesse espaço de tempo que chamamos vida.
Os dias em que sou desconcerto me consertam para os dias em que sou completa. 


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